"Casa
da Lúcia" testemunha presença da vidente em Braga
RELIGIÃO
| 16 DE FEVEREIRO DE 2005
A Irmã
Lúcia teve um papel fundamental na fixação das Carmelitas Descalças em Braga. A
"Casa da Ir. Lúcia", sita no Bom Jesus, foi, durante quatro anos, o
refúgio de veraneio predilecto da vidente de Fátima.
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Doada às carmelitas pela família Pestana de Vasconcelos, do
Porto, o edifício albergou as religiosas durante dez anos, até que estas se
fixaram nas novas instalações construídas a cerca de quinhentos metros. A Irmã
Maria da Paz de Cristo, Madre Prioresa do Convento das Carmelitas Descalças, no
Bom Jesus, referiu ao Diário do Minho que a «Irmã Lúcia era muito próxima
daquela família portuense. Por isso, doaram a casa ao Carmelo de Coimbra e, com
a dispensa de diversas carmelitas do Porto, fundou-se o convento no Bom Jesus».
A responsável, que viveu com a vidente durante oito anos, em Coimbra, recordou
que «a Irmã Lúcia contava que existia um mirante no Bom Jesus, onde ela se
sentava e apreciava a cidade de Braga. Durante as obras, realizou um trabalho
assinalável e deu inúmeras sugestões aos arquitectos que acompanharam a
remodelação. D. Francisco Maria da Silva, Arcebispo de Braga, também acompanhou
de perto a adaptação da casa ao Carmelo, pois ambos mantinham uma relação muito
próxima». Depois de regressar ao carmelo conimbricense e terminadas as obras,
«a Irmã Lúcia chegou ao Bom Jesus um dia antes da sua inauguração e ajudou a
ornamentar a capela. No final da cerimónia, regressou a Coimbra e nunca mais
retornou a Braga», conta a carmelita, que acrescentou que «as ajudas foram
recolhidas, em boa parte, por alguns amigos que ela conhecera em Espanha».
Nessa altura, colocou-se a possibilidade de a Irmã Lúcia trocar o Carmelo de
Coimbra pelo de Braga. Porém, a opinião dos bispos portugueses foi contrária e
esta permaneceu junto às margens do rio Mondego. A madre Prioresa contou que a
construção do convento actual se deveu à falta de condições - que a "Casa
da Lúcia" passou a oferecer. «Havia muito ruído provocado pelos
automóveis. Porém, a Câmara Municipal não deixou fazer as obras de ampliação
necessárias e, assim, tivemos de pensar numa nova construção. O espaço resultou
da compra e doação de diversas parcelas de terreno», explicou a responsável,
que não deixou de destacar o empenho do padre Luís Kondor, vice-postulador para
a canonização dos Pastorinhos de Fátima, e D. Eurico Nogueira, Arcebispo
Emérito de Braga, na angariação de fundos alemães, provenientes da
"Misereor", instituição ligada à Conferência Episcopal germânica.
Entretanto, a Irmã Maria da Paz de Cristo revelou que a Irmã Lúcia já tem uma
substituta, pois a disciplina interna da congregação permite apenas 21
religiosas em cada convento. Trata-se de uma jovem enfermeira de 25 anos de
idade, que, em princípio, ingressa no Carmelo de Coimbra, no dia 19 de
Fevereiro. Crismada em Frossos A relação da Irmã Lúcia com a região de Braga
não se cinge somente ao Carmelo do Bom Jesus. A vidente foi crismada no dia 24
de Agosto de 1925, na Quinta da Formigueira, em Frossos, pelo então bispo de
Leiria, D. José Alves Correia da Silva. O DM conversou com o padre Fernando
Leite, especialista no fenómeno de Fátima, que contou que a Irmã Lúcia, depois
de ter saído de Fátima, em 1921, internou-se no Instituto Van Zeller, no Porto,
também chamado de Asilo de Vilar. «Aí viveu durante quatro anos a estudar e a
preparar-se para a vida futura. Como não podia ir à sua terra, como as outras
alunas, passava as férias grandes na casa da família Pestana de Vasconcelos,
junto ao Hotel do Elevador», contou o religioso. «Em Agosto de 1925, o bispo de
Leiria veio descansar na sua Quinta da Formigueira e convidou Lúcia e a sua mãe
a passarem uns dias na sua companhia. Na sua capela particular, administrou o
Sacramento do Crisma a Lúcia», explicou o padre Fernando Leite, que recebeu
algumas cartas da religiosa. Aliás, o jesuíta possui um espólio da iIrmã Lúcia
digno de registo. O sacerdote contou ao DM que conversou uma vez, em Coimbra,
com a religiosa e achou que se tratava de «uma pessoa inteligente e com uma
memória espantosa. Para além disso, escrevia maravilhosamente bem, apesar de
não ter muitos estudos».
AUTOR: Alexandre Gonçalves
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