sexta-feira, 17 de setembro de 2021

UM LEGADO PRECIOSO

Um legado precioso.
Escrevo estas linhas com a esperança de que, sem querer adiantar-me ao supremo juízo da Igreja, pois para isso foi dotado o Santo Padre com o carisma da infalibilidade em matéria de fé e costumes, em breve tenhamos a alegria de ver o Padre Abílio elevado à suprema glorificação com que a mesma Igreja celebra os seus heróis. Começo a sonhar com o futuro de S. Mamede d’Este onde os peregrinos virão para rezar diante das suas relíquias e respirar o ambiente em que ele se santificou. Em Ars, terra onde viveu e morreu S. João Batista Maria Vianney, tudo foi conservado escrupulosamente, desde a casa paroquial à igreja. O altar de S. João Batista, o seu onomástico, a sacristia, com a cadeira onde se sentava para confessar os homens e para memorizar palavra por palavra, a homilia que tinha escrito, e toda a decoração da igreja, foram conservadas escrupulosamente. A mesma lição recebemos em Lourdes. Lá está a fonte Batismal onde santa Bernardettte começou a ser filha de Deus e empreendeu a sua caminhada para o Céu; conservou-se o Cachot, prisão onde os seus pais, obrigados pela extrema pobreza, se refugiaram durante algum tempo e donde partiu a Bernardette, com uma irmã e uma vizinha, na manhã de 11 de fevereiro de 1858, a fim de recolher lenha. O mesmo acontece em todo o cenário da Gruta de Massabielle. 
Felizmente, em Fátima imperou também o bom senso e o bom gosto. Conservou-se intacta a Capelinha construída em 1919, às ordens de Ti Maria Carreira, em obediência ao pedido de Nossa Senhora: “Quero que me construam aqui uma Capela.”. O Santuário adquiriu as casas dos três Pastorinhos e reconduziu-as ao sabor original. Amanhã virão os peregrinos a S. Mamede d’Este e gostarão de ver como era a capela- mor da igreja restaurada pelo Servo de Deus e onde gostava de rezar; tocar no genuflexório onde ele passou tantas horas em adoração ao Santíssimo Sacramento; o púlpito onde subiu tantas vezes para pregar e o cartório onde escrevia os textos para o Mensageiro Eucaristico… Braga precisa ser mais cuidadosa em conservar piedosamente os testemunhos do seu passado. 
A irmã Lúcia que veremos também, se Deus quiser, nos altares, passava um mês de férias na Quinta da Formigueira, com D. José Alves Correia da Silva. Ali recebeu o Sacramento da Confirmação e ali também pediu licença à mãe para entrar na vida religiosa. Algumas vezes, o Bispo de Leiria convidava a senhora Maria Rosa para ali passar algum tempo com a filha. Depois, embarcava na estação de caminhos de ferro e seguia viagem de comboio até à sua casa. Na sexta memória, a Vidente de Fátima refere-se longamente a estes factos. Houve quem tentasse preservar tudo aquilo, restaurando a casa, depois do loteamento da quinta, mas esta não resistiu à ditadura do capitalismo. Hoje, da casa de D. José e da reserva não resta o mínimo sinal. Tudo foi destruído. Que ao menos se preserve a Casa da Quinta da Fonte Pedrinha, oferecida pela ilustre família Pestana Vasconcelos, para ser a sede do Carmelo da Imaculada Conceição, do Bom Jesus. Aqui passava férias a “Maria das Dores” com os donos do imóvel, antes de entrar na Congregação das Doroteias. Nas férias que passava com esta abençoada família, depois de D. José ter partido para Leiria, passou dias memoráveis com as filhas desta família com idade aproximada da sua. Andava a cavalo e subia ao Sameiro, como nos diz também na Sexta memória. Aqui trabalhou intensamente a Vidente de Fátima, visitando, discretamente, o Santuário do Sameiro, para rezar diante da formosa Imagem Imaculada Conceição. Foi ela quem, nesta casa, trabalhou intensamente para a sua adaptação a Carmelo. Demos graças a Deus por guardarmos dentro dos muros da nossa Diocese relíquias tão valiosas e procuremos conservá-las ciosamente.