quarta-feira, 17 de outubro de 2018

MÍSTICA DE FÁTIMA

Segundo a Irmã Lúcia, a reparação é o termo que diz o essencial da espiritualidade de Fátima e da mística dos pastorinhos, onde se escuta, quase em surdina, aquela exclamação de S. Francisco – o Amor não é amado —, ou outra, mais recente, transmitida por Santa Margarida: Eis o Coração que tanto amou os homens e que não é correspondido…
A Irmã Lúcia testemunha nas Memórias até que ponto os pastorinhos interiorizaram a espiritualidade da reparação: Consolai o vosso Deus pedia-lhes o Anjo!... Aqui está uma característica essencial da teologia da reparação, e que constitui para muitos dos nossos contemporâneos o paradoxo se não mesmo o escândalo de Fátima, mas que é, afinal o escândalo e o paradoxo do cristianismo enquanto tal, que vive da inspiração do mistério da Cruz…, aquele divino morrer de Amor!...
Ora tudo isto aconteceu especialmente em Francisco. No princípio ele não viu nem escutava nem percebia nada do que se passava. Depois, começou a ver, mas não ouvia; e, finalmente, acabou por ver e ouvir, e compreender tudo.
A partir da visão do Inferno, na aparição de 13 de Julho, começa a perfilar-se nele toda a sua identidade espiritual, concentrada na oração de silêncio, na adoração eucarística e na contemplação interiorizada do mistério da Santíssima Trindade.
Ele gostava de se retirar sozinho para a Igreja e aí ficar, escondido junto ao sacrário, a fazer companhia a “Jesus escondido”. Mas a característica mais evidente da mística do pequeno pastor era decididamente trinitária. Ele sentia-se totalmente penetrado até ao mais fundo do seu ser pelo reflexo de luz que saía das mãos de Nossa Senhora, e esta luz era Deus. Ele dizia: gostei muito de ver o anjo! Gostei ainda mais de ver Nossa Senhora! Mas do que gostei mesmo foi daquela luz que nos penetrava no peito, na qual nos víamos como no melhor dos espelhos! E essa luz era Deus! Este é o nosso segredo: não o podemos dizer a ninguém!

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