quarta-feira, 22 de novembro de 2017

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"Casa da Lúcia" testemunha presença da vidente em Braga
RELIGIÃO | 16 DE FEVEREIRO DE 2005
A Irmã Lúcia teve um papel fundamental na fixação das Carmelitas Descalças em Braga. A "Casa da Ir. Lúcia", sita no Bom Jesus, foi, durante quatro anos, o refúgio de veraneio predilecto da vidente de Fátima.
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Doada às carmelitas pela família Pestana de Vasconcelos, do Porto, o edifício albergou as religiosas durante dez anos, até que estas se fixaram nas novas instalações construídas a cerca de quinhentos metros. A Irmã Maria da Paz de Cristo, Madre Prioresa do Convento das Carmelitas Descalças, no Bom Jesus, referiu ao Diário do Minho que a «Irmã Lúcia era muito próxima daquela família portuense. Por isso, doaram a casa ao Carmelo de Coimbra e, com a dispensa de diversas carmelitas do Porto, fundou-se o convento no Bom Jesus». A responsável, que viveu com a vidente durante oito anos, em Coimbra, recordou que «a Irmã Lúcia contava que existia um mirante no Bom Jesus, onde ela se sentava e apreciava a cidade de Braga. Durante as obras, realizou um trabalho assinalável e deu inúmeras sugestões aos arquitectos que acompanharam a remodelação. D. Francisco Maria da Silva, Arcebispo de Braga, também acompanhou de perto a adaptação da casa ao Carmelo, pois ambos mantinham uma relação muito próxima». Depois de regressar ao carmelo conimbricense e terminadas as obras, «a Irmã Lúcia chegou ao Bom Jesus um dia antes da sua inauguração e ajudou a ornamentar a capela. No final da cerimónia, regressou a Coimbra e nunca mais retornou a Braga», conta a carmelita, que acrescentou que «as ajudas foram recolhidas, em boa parte, por alguns amigos que ela conhecera em Espanha». Nessa altura, colocou-se a possibilidade de a Irmã Lúcia trocar o Carmelo de Coimbra pelo de Braga. Porém, a opinião dos bispos portugueses foi contrária e esta permaneceu junto às margens do rio Mondego. A madre Prioresa contou que a construção do convento actual se deveu à falta de condições - que a "Casa da Lúcia" passou a oferecer. «Havia muito ruído provocado pelos automóveis. Porém, a Câmara Municipal não deixou fazer as obras de ampliação necessárias e, assim, tivemos de pensar numa nova construção. O espaço resultou da compra e doação de diversas parcelas de terreno», explicou a responsável, que não deixou de destacar o empenho do padre Luís Kondor, vice-postulador para a canonização dos Pastorinhos de Fátima, e D. Eurico Nogueira, Arcebispo Emérito de Braga, na angariação de fundos alemães, provenientes da "Misereor", instituição ligada à Conferência Episcopal germânica. Entretanto, a Irmã Maria da Paz de Cristo revelou que a Irmã Lúcia já tem uma substituta, pois a disciplina interna da congregação permite apenas 21 religiosas em cada convento. Trata-se de uma jovem enfermeira de 25 anos de idade, que, em princípio, ingressa no Carmelo de Coimbra, no dia 19 de Fevereiro. Crismada em Frossos A relação da Irmã Lúcia com a região de Braga não se cinge somente ao Carmelo do Bom Jesus. A vidente foi crismada no dia 24 de Agosto de 1925, na Quinta da Formigueira, em Frossos, pelo então bispo de Leiria, D. José Alves Correia da Silva. O DM conversou com o padre Fernando Leite, especialista no fenómeno de Fátima, que contou que a Irmã Lúcia, depois de ter saído de Fátima, em 1921, internou-se no Instituto Van Zeller, no Porto, também chamado de Asilo de Vilar. «Aí viveu durante quatro anos a estudar e a preparar-se para a vida futura. Como não podia ir à sua terra, como as outras alunas, passava as férias grandes na casa da família Pestana de Vasconcelos, junto ao Hotel do Elevador», contou o religioso. «Em Agosto de 1925, o bispo de Leiria veio descansar na sua Quinta da Formigueira e convidou Lúcia e a sua mãe a passarem uns dias na sua companhia. Na sua capela particular, administrou o Sacramento do Crisma a Lúcia», explicou o padre Fernando Leite, que recebeu algumas cartas da religiosa. Aliás, o jesuíta possui um espólio da iIrmã Lúcia digno de registo. O sacerdote contou ao DM que conversou uma vez, em Coimbra, com a religiosa e achou que se tratava de «uma pessoa inteligente e com uma memória espantosa. Para além disso, escrevia maravilhosamente bem, apesar de não ter muitos estudos».
AUTOR: Alexandre Gonçalves
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